segunda-feira, março 17, 2014

Comédia ou Tragédia

A vida que por uma tênue linha é dividida dos seus outros aspectos
Também separa picadeiro e plateia
No encontro de pessoas muito sérias, outras nem tanto
E lá embaixo, o palhaço no ofício de fazer rir
De fazer rir sem chorar, e quem o faz rir?

A imagem refletida no espelho
Como se a linha que o separou da plateia antes
Agora o separasse em partes dele mesmo
Separando-o de um eu ilusório, mascarado, sempre risonho
Separando o drama da tragédia, o riso e o choro

Toda ilusão de risos provocados pelas suas caras e bocas
Em frente ao espelho, olhando no fundo de seu duplo eu
Ele começa a se despir de toda pintura de guerra
E vagarosamente segue para outro lugar, quem sabe casa

Se há casa, lar, sorrisos e abraços o esperando pouco importa,
Ninguém se importa, quem se importa com o palhaço?
E a porta que se abre desvela na noite da sala mal iluminada
Uma mesa de centro e um copo vazio sobre
Que se destaca, não se sabe ao certo porque

E o olhar cansado se detém por longo instante ali
Sobre aquele copo e nos detalhes que o envolvem
Sem saber se a aflição que sentia era amplificada pelo reflexo
Simbólico que o copo vazio significava
Afligia-lhe o copo vazio ou o vazio do corpo

O vazio do copo como corpo sem substância
Que se encontrava nele irmão em circunstância
Ou como ponto de apoio da sede que desenha sem sua garganta
Despontando no horizonte como raio de sol negro
Escurecendo tudo que o dia mais pudesse lhe trazer?

Quem agora o faria sorrir no ápice de sua tragédia
No ato derradeiro quem o salvaria do copo de veneno
Ou apareceria alguém para dividi-lo, como irmãos ou amantes
Em um pacto de morte.

Processo diário e constante de ascensão e queda
Comédia ou tragédia, Riso ou Choro
Uma bala na cabeça ou mais uma dose de nada
Então pega da garrafa que enche o copo
Liga a TV.
Mais um dia. Menos um dia.

Vida que segue.