O copo sobre a mesa
O corpo sobre a cama
Ambos vazios
de esperanças
Matérias prontas
para usar
Uma querendo, outra
sem dar conta
Quase escravo,
aquele corpo, suplicando
Quase escrevo aquele
corpo suplicando
Implorando, por
mais, meu olhar compenetrado
no copo
Vazio e estático,
em cima da mesa.
A garrafa de vodka
ao lado.
Pela metade. O livro
caído no chão. E o corpo me olhando.
Os sons que vinham
da cama, seduziam-me e mais uma vez subi.
E a usei, como havia
me pedido.
Agora, corpos sobre
a cama.
Eu disse, apenas,
não.
Não que não queira
a escrita, suada na pele da amada
em estertores de
amores proibidos em camas suadas
rançosa mania de
esperar tudo certo.
É que tudo que se
passa na realidade invade minha mente
contente em não ser
mais do mesmo, indiferente.
Como se fosse um
herói, asceta indignado.
No alto longínquo
de meu ego inflado.
Contrafaço o que
digo, como um dogma hipócrita.
Desejos de
simplicidades perdidas e pernas bambas.
Sonhos que cabiam
num céu claro de brigadeiro
no sonho da criança
que se foi.
Abismo que se forma
e nele se forma a alma.
O copo e o corpo
vazios.