Meus olhos nada viam
Disseram-me que eu estava só
Que tudo era sonho
e álcool
e sexo
e dinheiro
Tamparam meus olhos
E me disseram: está só!
E pergutaram: que é você?
Quem é você?
Joguei meu nome no Google
Na vã esperança de me encontrar
na Wikipédia. O eu-vocábulo
O eu que era. O que era? Quem era?
Qual era?
Nada.
A voz proferida por não sei quem
Quê?
Ecoou por todos os lados
E meus gritos ecoaram por todos os lados
Todos os lados do meu quarto
Fui para o quintal e gritei
em meio à árvores meio mortas de solidão
e fiz ressoar por sua folhas
e galhos
e troncos
e raízes
o som de todos os meus sonhos
Fui para a rua
Apenas para incomodar os autômatos
caminhantes dentro de suas carroças de ferro e aço
Já era! Havia perdido a sanidade?
As mãos encontraram a face úmida
em desespero
Parado como estátua em plena Presidente Vargas
Esfinge de mistério para os que passavam por ali.
Então, ecos.
Reverberavam pelo mundo os ecos
de milhares de solitários e loucos
Loucos, pois acreditavam em sonhos
e no agora
e na mudança
e no impossível
Outros sotaques, idiomas, gêneros, religiões
O mundo enviava para mim todas aquelas
vozes alquebradas pelo tempo
e pelo esquecimento
Eram meus iguais e suas vozes
repetiam o mesmo que a minha
cada um à sua maneira
cada um entoando o cântico coletivo do impossível.
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