quinta-feira, outubro 10, 2013

Um passado



Andando de ônibus pela cidade
que tanto conheço, seus becos e vielas
botecos e sarjetas, o lugar dos proscritos
Passo diante de uma rua
Que ao meu passado me remete
Saudosista, nostálgico ou idiota, pouco importa
Em que amei, de forma juvenil, uma garota
Que hoje, se quer sei a face que se encontra
Portanto, possa dizer que amei verdadeiramente
e que acreditei, nas escadarias daquela rua
que duas almas poderiam se entrelaçar
para sempre, enquanto durasse.

Desistência

É sempre aquele mesmo ódio preso no peito
uma coisa velha e arcaica que segue contigo
Dia após dia. Mês a mês. Ano após ano.
Sempre o mesmo ódio, sem alvo, pois não há o que odiar.

Sempre aquele mesmo gosto de fel na boca
Tirando o sabor de tudo que entra boca adentro
Do sexo, do álcool que nunca lhe sacia
A briga já perdeu o sabor, violência sem substância

Mesmo que socasse todos os idiotas do bar
Ainda existiria o vazio que sempre está lá
Preenchendo seu interior por completo
Completo de vazio.

Das orações antigas, apenas pó em sua boca
Árvores, crucifixos, santos, espíritos ou meditação
Palavras são vento, assim como as orações
Completo do mais profundo vazio.

Mesmo quando procurou dentro de si
Saciar essa angústia de querer sempre algo
Cortando a própria pele e adentrando em sua carne
As mãos besuntadas de sangue coagulado: vazio.

Olhando para o vazio primordial
o medo lhe percorreu toda a cervical
arrepiando todos os pelos do seu corpo
e o pulo para o vazio definitivo se fez.

07/11/2012