quarta-feira, abril 25, 2012

Ladeiras, abismos e sonhos


Eu olho a ladeira
e não espero as lembranças passarem.
Lembranças que lembram
o odor do vinho; dois corpos bêbados
que lembram dia de lua cheia.
Corpos em queda pela ribanceira
vertiginosa das noites sem olhos
para julgá-los como amaram naquela noite.
Os mais rotos dos anjos
que de tão tortos,
sequer lembravam alguma coisa.

Quer saber?
Acho que não
eu bem que poderia repetir isso de novo
se ser feliz por mais uma noite
é aquilo, que fique na lembrança
e ter aquilo que sempre quis
quis? quero?

Eu que olho a ladeira:
A Ladeira dos Corpos
A Ladeira-abismo do amor
Corpos em profusão libidinosa
Na espiral descendente
encharcados de vinho

Corpos encharcados de paixões
como dois niños
que não percebem que já se foi o dia
brincando como toda criança brincaria
de faz de contas, vivendo o sonho
que os adultos apenas dardejam ao longe
como ilha deserta no oceano longínquo
o alvo etéreo de seus sonhos

Eu adulto que dardejo meus sonhos por aí,
como anjos tortos de paixão e vinho,
na esperança de acertar a desesperança.

sábado, abril 14, 2012

Como sobrevivemos

Se eu vivesse de comedimento
Estaria morto!
Vivo, pois do vício e do destempero
Do exagero e do êxtase e Lsds
E do álcool, e do sexo casual
Não usual.
E das coisas que queimam tão intensamente quanto.

E vejo mortos, todos os dias
pelas pílulas na hora certa
pelas sessões de choro no divã
pela falta de explosões de raiva diante da ira
Enforcados por gravatas

Como podemos sobreviver à tudo isto?
contra o fluxo natural:
dos bons costumes,
de Deus,
dos nossos pais,
dos amores impossíveis.
à moral e
às imposições: moendas de mentes
Apenas com vinho barato e baratas.
(Únicas testemunhas de noites inteiras).

13/04/2012

terça-feira, abril 10, 2012

Ira

Ó deusa, canto à minha ira!
À ira contra esta realidade medíocre
Cheia de gentis medíocres
Gente que sequer quer!
Que não quer nada
Chafurdados nesta merda que ao bater no queixo
É a única coisa que os fazem andar com a cabeça erguida.

Faz tempo que a cultivo

Ó deusa! Eu canto a minha própria ira!
Pois não conheço a ira de outrem, nem canto glórias passadas
Pois deste charco pútrido não enxergo glória alguma a ser cantada!
E mesmo encharcado de indignação ainda canto
Canto a ode, o soneto e canto o nada
Canto à Lua, às estrelas e às trevas!
Canto à pátria espúria, à bela dama e ao vinho!

Canto para não morrer

Em cada verso, um prolongamento dessa existência
Deusa, diz-me cruel e seco, sem adornos ou meneios de palavras adocicadas:
O que somos?
Mnemósine lembrai-me, lembrai-me daquilo pelo que vivo
Antes que a dor e o pranto levem o que restou
Antes da minha vontade de existir transformar-se em
Uma eterna espera pelo devir.