segunda-feira, novembro 28, 2011

Quem Sabe?

Você me diz alguma coisa inútil.
Alguma coisa perturbadoramente e terrivelmente inútil.
Que nada muda.
E assim seguem-se os dias e as noites e as luas.
Cada um por seu caminho solitário.

Que dizer das estações e do tempo
Enquanto se espera o ônibus chegar?
Acerca de que deuses devemos falar
Ao subir o elevador com aquela música de fundo?

Deixe que as coisas sigam seu caminho.
O caminho delas.
São coisas.
Sim.

E acerca de quem falava antes?
De mim ou de você?
Na verdade nunca sei bem ao certo
Nossos corpos queimaram tão intensamente
Que nada poderia separá-los nessa fusão

Mas eis que nos vemos separados
Unha e carne, sangue e ossos
Fendidos pelo destino arbitrário
Cíclico e contínuo. Espaço e tempo.
Abstrações inúteis.

E aquela última garrafa de vodka?
Acho que devemos deixar para outro dia
Em outra existência.
Quando fizermos tudo diferente.
Não?

Cidade-Sombra

Nessas horas que o mundo morre
e que toda puta e vagabundo vaga
como companheiros meus pelas veredas
dessa cidade-sombra.
Sinto-me mais vivo e pulsante do que nunca
Vago com o orgulho de um fidalgo passeando
Becos fétidos, mijo curtido
Bingas de cigarro por toda parte
A promessa de sexo, álcool e morte
na próxima esquina.

Conheço todos os vermes dessa sarjeta
a mesma sarjeta que ignoras
com os teus nojos burgueses
e seu olhar conservador hipócrita
a puta que te excita e deseja secretamente
que teu pau pudesse penetrá-la
Enquanto me embriago em teu sexo e sorvo
todo o prazer que lhe paguei para ter
sem culpa ou remorso alguns.

Conheço todos os vermes dessa sarjeta
Longe da decadência dos botecos em
que afogo todas as minhas mágoas
para que voltem como mortos-vivos
a me assombrar em noite de Halloween.
Onde teço as mais finas teorias sobre o mundo
E a mais sofisticada filosofia metafísica
A metafísica da dor e da desesperança

Dor de olhar todos os dias para esta horda
de seres sem vontade, vagando por estes
Caminhos de concreto e asfalto sem vida

Desesperança de ser obrigado a viver
Sem vislumbrar um fim para tanto non sense,
um teatro de bizarras apresentações.

Conheço todos os vermes dessa sarjeta
pois eis que são meus iguais.

Não, aqui não é Paris.

E o copo nem chegou na metade.