terça-feira, agosto 13, 2013

O poeta e a escrita

A vida toda
Para escrever um poema
Sem poesia alguma
Que faça qualquer sentido
De qualquer maneira, para algum Mané.

Garranchos escritos ou jogados
Para ocupar o tempo na era dos occupy
Invencionando termos
Soltos no papel branco
A folha em branco e a quimera do poeta
Perseguida em flores, deflores, amor e desamores
Defloradas as opções, segue
rabiscando referências perdidas
Esquecidas, subjugadas, preteridas
Em razão de uma vida fluida
Corrida, morrida de morte virtual
Matriz de um protótipo de poeta

Que ainda pensa que sabe poetar.

Repetições cíclicas de uma mente redundante

Como é que se cura a angústia
Do medo do vazio do dia-a-dia
Dado o que é dado todos os dias noticiado

Como é que se cura a ferida
Que não aberta, não pode ser fechada
Que não conhece inicio, menos ainda fim

Como é que se luta
Todo dia na labuta, sob o chicote
Etéreo, do patrão sem face ausente

Como é que sei de algo
Quando algo não é sabido se quer
Sequer ser sabido por ação ou inação

Como é que falo de ação
Quando ação de um cão feroz
Silencia a voz de seus cidadãos

Assim é que sei que a angústia
Do medo vazio do dia-a-noite
Que abre a ferida fantasma
Que dói no lombo que luta na labuta
Que não se sabe se enquanto saber
Se sabe-se dever ou luta
Que apavora a alma do que ama
Fenda do vazio sob o chicote dos amos sem face
Angustiados no mosaico de paixões
Que insistem chamar ação.

Assim é que sei.
Talvez.

quarta-feira, agosto 07, 2013

Gehenna

Gehenna

Como sublimar as tristezas de um mundo decaído
deteriorando em caos e miséria
Abandonado por qualquer entidade possível

Como transcender em meio à fome e a guerra
decaindo em desgraça, profanando à tudo como resistência
Iconoclastia obsessiva diária e constante

Queimando os ídolos que nos acorrentam
Crucificando pastores de ovelhas cegas
Sofrendo em silêncio o luto da própria alma

Observando de becos escuros, que ninguém frequenta
longe dos olhos virgens dos senhores
A fealdade da realidade ignorada encarnada

Um vira-latas entre seus iguais, tantos
caçando os pedigrees, tão poucos
uma massa que ainda dormente, atormenta

Uma torrente de cães acorrentada
surrados diariamente, esgotados de esperança
Comendo os restos, alguns, outros, velhos demais para a luta

Massa de degenerados por sentença de vida
Ergam-se de suas alcovas
cemitérios do gozo e do prazer

Enterremos nossos senhores esta noite.
Todos.

Quimera

Quimera

Em rodopios dionisíacos, descabelar-me
Mesmo não sendo esperado
Amando um simulacro de passado
Ouvindo melodias que não mais possuem razão
Declamando versos que não dizem nada

Assim, dessa forma seguiria uma trilha pela qual
Entre tantas outras, me levaria afinal ao fim
Fim das angústias de não tentar e decepcionar mais uma vez.

Tornando-me bêbado com aquele copo de absinto.
As ideias de sublimação da alma se esvaem
como nuvens de uma chuva de verão.
Inferno da alma esse de amar sem cessar.
Esquecer forçado da vida para seguir.

Quem sabe eu não devesse mesmo gritar aos quatro ventos
Xingar, face a quem odeio, em verdade.
Que não sinto mais nada. Que não ligo. Não me importo.
Desabafar como um adolescente com palavras vazias.

Assim, com lágrimas nos olhos, descabelado
sem sentir nada.