terça-feira, agosto 17, 2010

Catarse

Chuva. Música. Espírito e mente.
Rotina passiva, melancólica.
O frio de agosto e sentimentos irmãos.
Era de incertezas malditas.
Busca pelo medieval.
Na arte, na essência, na morte.
Fuga para as aventuras, as glórias.
Via fibra ótica.

Quanta modernidade, quanto conhecimento.
Quanta mediocridade, quanto açoitamento.
As vezes, esquecemos de tudo.
Na alcova de minha solidão, penso.
No leito nupcial de meu tormento, penso.

Descubro apenas trevas.
Sem pranto ou lástima.
Mesmo que este fosse um último grito
Quem saberia?

Para quem gritaria eu?
Para que alma além destas quatro paredes?
Nenhuma é tão amaldiçoada.
Nenhuma é tão açoitada. [como se sentisse o peito apertado
contra o tronco frio e sentisse a chibata
arder repetidas vezes, abrindo carne e dilacerando
músculos, ossos e espírito.]
Dilacerada.
Chuva. Música. E só.
Ode ao guerreiro caído

A espada trespassa o peito
Como a flecha atravessa a maçã
O sangue sobre a neve. Os olhos turvos.
Anjos me cercam. Há luz?

Não consigo decifrar suas faces
Sem castas, sem cruzes, mas, sim, runas!
Pois não são anjos!
Posso escutar. Cantam à minha volta.
Uma melodia. Antiga. Lamuriosa. Fúnebre.

Minha mente se expande até eras esquecidas.
Até que minha consciência se perca.
As leis naturais se dissolvem a= minha volta.
Ao longe, vejo por entre as brumas, sombras.

O meu existir não mais existe.
Tudo a minha volta sou eu.
Eu sou tudo a minha volta. E digo:
Lá vejo meu pai, lá vejo minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs
E já não sinto mais medo. É o Valhalla.
Verlustgeist

O meu amor se foi.
Não foi uma pessoa.
O meu amor se foi.
Não, já disse que não foi uma pessoa.
Não sei. Só sei que se foi.
Como se algo se quebrasse aqui dentro.
Uma pecinha pequenininha aqui dentro do nosso peito.
Como se ela mantivesse alguma coisa que agora não funciona mais.

O meu peito está frio.
Não é o tempo.
O meu peito está frio.
Droga, já disse que não é o tempo.
E nem preciso colocar agasalho.
Como se faltasse lenha na sua lareira.
Como se algo que o aquecesse, já não aquece mais.

Meus olhos já não choram mais.
Mas que merda hein!
Não é falta de água, não estou desidratado.
É como se tivesse vendido a minha alma igual naquele desenho.
Se lembra? Não? Que pena. Eu gostava.
É como se um poço de águas infindas houvesse secado.
Assim, da noite pro dia, do dia pra noite.

Já não sinto o toque quente.
Mas ainda estou vivo e não, não vou brilhar no sol.
É como se nada mais fizesse sentido. Não vivo.
Já disse, não estou morto. Apenas se foi. Tudo.
E como posso apenas existir.
Existir essa insistência na existência opaca de um ficar e não ir à parte alguma.

Morto, sem luto.
E seguir essa existência insistente de não morrer quando já se está morto.

terça-feira, junho 22, 2010

Sob a meia verdade


Sob a meia verdade

Sob o véu de penumbras desconhecidas
Optamos pela luz ou pela escuridão
Sobre as páginas de letras opacas
Optamos pelo que é ou pelo que não é

Nossas vidas em um rumo sombrio
Nunca sendo o que desejamos
Sempre buscando a distinção e o brilho
Mostrar-se mais e melhor que todos

Vagar pela linha da distinção, não do ébrio
Vagar pela luz que faz brilhar, não a que ilumina
Vagar pelas usinas nucleares, nunca perto de vagalumes evanescentes
Cair em abismos sem enxergar o fundo, jamais.

Abraçar a loucura nunca é uma opção
Negá-la não é necessário
Necessário é optar pela mesma meia verdade
Sempre. Em qualquer lugar. Para sempre.

Ser meio feliz, meio rico, meio boêmio
Ser meio medíocre, meio hipócrita, meio honesto
Ser meio herói, meio poeta, meio escritor
Ser meio apaixonado... ter metade de um amor
Sem nunca na verdade ter tido nada.

terça-feira, maio 11, 2010

Viagem

Ó, pálida Dama
Dance comigo a última valsa
Beba desta última taça
Para não irdes sóbrio
Sem fuga ou devaneio

Ó, pálido desejo de abandonar tudo
Para deitar-me em lugar mais sereno
Onde não lembre mais deste mundo
Onde possa sentir novas sensações

Ó, grande barqueiro
Guia eterno do meu ser
Leve-me deste lugar
Está aqui a tua moeda

Hecate, receba-me em teus domínios
Deixe que adentre em teus infernos
Que tenha vinho e dança oníricos
Que seja sonho até não ser mais.

Wenceslau Teodoro Coral

Santuário

Santuário

Certa vez, eu sonhei...
Me deparei com uma cena:

Havia um anjo dormindo em meu colo
Nada que eu fizesse conseguia acordá-lo
Era belo e eu o amava

Era um sonho, definitivamente!
Então subimos e eu coloquei-o em seu leito
Não quis pertubá-lo.

Fui embora de seu santuário
Sem perturbar o silêncio divino
Sem fazer com que abrisse seus olhos
Depois de embalar seu sono...
Depois de embalsamar meu coração.

Se o tempo parasse...
Seríamos uma lânguida escultura barroca
A sua face despreocupada em meu colo
Minha dor contida de tê-lo e não tê-lo
Mas quem além de mim poderia estar ali...
Quem além de mim conseguiu chegar até aqui...

Queria ser eterno...
Queria que o tempo não existisse.
Eu apenas quero.
Eu apenas amo.

Lorde Wenceslau, 08 de setembro de 2006. [Modificação em 11/05/2010]

Ode ao caos

Ode ao caos

Eu deveria sentir saudades, um triste pesar
Sim, deveria sentir estas coisas e até outras
Penso que sou meio frio
Penso, peno, repenso, propenso à catástrofe
Abraço o indizível, abraço indizível

Espero que entendam que não entedem
Nem eu a vocês, nem vocês a mim
Abolindo a cultura, eu a liberto para que vá embora
Quero destruir igrejas, templos, bibliotecas

Precisamos renascer com novas mentes
Temos necessidade de mais necessidade
O desejo do vazio absoluto
Reconstruir o sujeito como se cada um fosse uma obra de arte
Sermos arte!
Serdes arte!

Destruir o sujeito como se ele nunca houvesse existido
Liberte-se de seu pai e sua mãe Liberte-se da posição de coitado
Foi o acaso que definiu esta posição
Assim como definiu as palavras, eu e o mundo

Liberte a ética e a moral antiquadas, renova-as com o teu sangue
Seja fluido e abrace-se enquanto transa consigo mesmo
Dê a luz uma nova vida que será retirada da sua cabeça
Seja Zeus, Deus e o diabo!
Sermos arte!
Serdes arte!

Mate os eufemismos e liberem por um segundo os seus desejos
Enfie uma faca até que o cabo encontre as costelas de Deus
Sinta pulsar o sangue divino
Libere a realidade para fluir como o mais belo caos.

Wenceslau Teodoro Coral