terça-feira, abril 10, 2012

Ira

Ó deusa, canto à minha ira!
À ira contra esta realidade medíocre
Cheia de gentis medíocres
Gente que sequer quer!
Que não quer nada
Chafurdados nesta merda que ao bater no queixo
É a única coisa que os fazem andar com a cabeça erguida.

Faz tempo que a cultivo

Ó deusa! Eu canto a minha própria ira!
Pois não conheço a ira de outrem, nem canto glórias passadas
Pois deste charco pútrido não enxergo glória alguma a ser cantada!
E mesmo encharcado de indignação ainda canto
Canto a ode, o soneto e canto o nada
Canto à Lua, às estrelas e às trevas!
Canto à pátria espúria, à bela dama e ao vinho!

Canto para não morrer

Em cada verso, um prolongamento dessa existência
Deusa, diz-me cruel e seco, sem adornos ou meneios de palavras adocicadas:
O que somos?
Mnemósine lembrai-me, lembrai-me daquilo pelo que vivo
Antes que a dor e o pranto levem o que restou
Antes da minha vontade de existir transformar-se em
Uma eterna espera pelo devir.

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