sábado, junho 10, 2017

Vagância

O copo sobre a mesa
O corpo sobre a cama
Ambos vazios
de esperanças

Matérias prontas para usar
Uma querendo, outra sem dar conta

Quase escravo, aquele corpo, suplicando
Quase escrevo aquele corpo suplicando
Implorando, por mais, meu olhar compenetrado
no copo
Vazio e estático, em cima da mesa.

A garrafa de vodka ao lado.
Pela metade. O livro caído no chão. E o corpo me olhando.
Os sons que vinham da cama, seduziam-me e mais uma vez subi.
E a usei, como havia me pedido.

Agora, corpos sobre a cama.

Eu disse, apenas, não.
Não que não queira a escrita, suada na pele da amada
em estertores de amores proibidos em camas suadas
rançosa mania de esperar tudo certo.

É que tudo que se passa na realidade invade minha mente
contente em não ser mais do mesmo, indiferente.
Como se fosse um herói, asceta indignado.
No alto longínquo de meu ego inflado.

Contrafaço o que digo, como um dogma hipócrita.
Desejos de simplicidades perdidas e pernas bambas.
Sonhos que cabiam num céu claro de brigadeiro
no sonho da criança que se foi.

Abismo que se forma e nele se forma a alma.

O copo e o corpo vazios.

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