domingo, junho 21, 2009

O Filho


Eu que gosto tanto do filho que não tive, daquele que antes de vir ao mundo se foi e nunca mais voltará, porque destas viagens nunca se volta. Eu aqui e ele nem mesmo viu meus olhos cheios de lágrimas da alegria de vê-lo dar o primeiro choro. Eu que já estava aprendendo a gostar, de verdade, juro! Ele deve estar bem lá sentadinho ao lado de Deus, pois dizem muitos que eles viram anjinhos quando vão para o outro lado, não e verdade? Diz que sim, só agora, por esses minutos. Me deixa feliz, confortado. Quero ser humano por mais uns instantes, meu amigo. Deixa eu acreditar que o meu amigo imaginário não é imaginário. Sim, eu sei. É, não deveria, mas o faço assim mesmo. Escrevo à memória daquele que nunca foi, nem teve a chance de ser um imortal, pois antes de seu batismo de fogo foi arrancado do solo com suas raízes ainda incapazes de sustentá-lo. Eu queria há tanto tempo ver-te, só agora consigo recriá-lo nestas palavras de um desabafo quase morto, eu que com essa vodka e esse meu amigo, ambos turvos na minha frente, um diz continua, outro diz, vamos para casa. Eu não digo nada, começo a caminhar porque a vodka acabou, o bar fechara, Lapa. Adeus.

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