sábado, setembro 14, 2013

Cidadão de Bem

todos os meus amigos de infância
tornaram-se homens de bem
só eu ainda ando pelas ruas como um ébrio
vagando sozinho e pelos becos
trocando ideias com a corja
como os rejeitados que são
não têm família que os acolha
nem braços carinhosos que os afaguem
somente o álcool, a luxúria e a boemia
em longas noites frias

tentar todos os dias ser a mesma coisa insossa
cantar a mesma ladainha todos os dias ao chefe
viver a mesma vida triste por escolha
todo santo dia!
como conseguiria?

como eu queria ter feito um filho
arranjado um trabalho de segunda à sexta
bater cartão, ser sóbrio, ir à igreja
beijar à esposa como um hábito sem importância
quem sabe, ter um carro, enfrentar congestionamento
ter uma gastrite, contas à pagar

quem sabe, ter a filha rainha do baile,
o filho capitão de futebol
a esposa missionária
e eu, ali, vazio de sentido.
cumprindo o mesmo roteiro que os meus amigos escolheram.

sério! eu até me esforcei bastante pra isso
mas não consegui. rezei um terço e me confessei
de nada adiantou, continuei torto.

logo eu dado à exageros
o perdido, o pecador, o lascivo
o desvirtuado, derrotado, perdedor
fracassado, egoísta e blasfemo
de mal com Deus e o Mundo.
admirador de lascivas mulheres
algumas até prostitutas
doente, pervertido e subversivo
como eu, dono de tantas distintas qualidades
poderia ser um cidadão de bem?

como se eu quisesse.

Um comentário:

samanthamoragas disse...

Contraditoriamente delicioso ler este pelo poema na pausa do expediente ^^
Bela escrita, meu amigo! <3