segunda-feira, julho 14, 2014

Saindo da inércia

Não sei porque escrevo
Não entendo nenhuma das palavras que caem sobre a folha branca
Não conheço nada do léxico utilizado para passar essa mensagem
Não sou, não entendo e não sei se quero saber nada disso.

Sou um retrato da minha geração indiferente
com relação ao todo e às partes que compõe a obra.

Nem sei mesmo ao que vim e porque me drogo
Dia após dia.

Sinto a angústia
De uma infinita dor sem motivo
de uma depressão sem causa
de um vazio criado por tudo que tenho

O carro que ganhei ao passar no vestibular
O apartamento que ganhei ao me casar
A escola dos meus filhos paga por tê-los tido.
A babá VIP que tenho, o emprego que o amigo do meu pai me deu
A esposa que a família aprovou
A carreira que o pai indicou

Mas o mundo não irá parar
Porque mais um desistiu, nem será erguido nenhum monumento
em memória de mim.
A paisagem continuará imutada até o próximo empreendimento
imobiliário chegar ao lugar.

E esse frio
Sinto um frio que parece se espalhar
Um inverno frio e calmo
Com promessas de um conforto nunca antes sentido
Que não me promete nada
Que não me diz que haverá dias felizes

Encolho-me mais ainda diante das reflexões doentes que me surgem
dessa vontade de nada fazer.
A TV ligada à frente, não diz nada.
Conforto para os entorpecidos.

Na hora de mudar, abrirei um livro.
E colocarei fogo na cidade.
Quem sabe, para aquecer esse frio na alma.
Quem sabe?

Um comentário:

Mundo da Penumbra disse...

Maneiro, cara
Estou propondo uma entrevista com alguns escritores sobre o processo da criação artística, a composição da escrita e as relações que se dão entre elas. Pretendo lançar no meu blog e ficará disponível para compartilhamento e divulgação.
Isso é uma forma de nos unirmos somando forças e assim aumentar o alcance de nossos trabalhos, além de mostrar um outro lado que nós, artistas, por vezes acabamos soterrando pelos afazeres do cotidiano.
Você topa?