terça-feira, dezembro 27, 2011

Em busca


Hoje um corvo branco pousa em minha janela,
uma doninha negra cruza o meu caminho,
os pássaros verdes voam muito longe da minha alcova
e gatos góticos inspiram a mais obscura poesia;
que de nada serve, assim como todos estes versos.

Mentir para escrever e colocar palavras perdidas na folha
de papel em branco e buscar no passado, por obrigação,
a ilusão necessária que dar-me-á a consagração
como poeta maldito entre outros tantos malditos.

Entre almas que colocaram uma bala entre os olhos,
Se embriagaram com o mais acre veneno
Ou deixaram-se encontrar dependurados na sala,
À vista de todos.

Vago em busca da inspiração maldita, da essência
da alma negra e sombria que me disseram estar por aqui,
em algum lugar desse palácio. Busco as bacantes e Baco,
encontrando apenas o cheiro luxurioso dos bacanais.

O vinho me entra, azedo, pelas narinas, mas não me sinto tonto
e nada vejo. Nada é o que vejo e o desespero me toma
por completo, só porque deve ser assim.
Nada do que relato é o que foi.

E o sol batia em minha janela e jazia um dia lindo do lado
de fora do meu umbral. E aqui, nestas terras tropicais,
jaz mais um espírito maldito que não vê em nada
O que não haveria de ver mesmo. Pois nada há.

Um comentário:

Vanessa Punk disse...

Regogizante. Há muito tempo não lia uma poesia BOA e que agradasse o intelecto e a alma. Obrigada por isso!